Inenarrável! (ainda que, claro, eu tenha tentado fazê-lo)

   Faltariam dedos no corpo para contar o número de fotos de pôr do sol que já vi por aí, isso sem mencionar os muitos pedacinhos deste momento que presenciei pelos entardeceres aleatórios destes meus vinte e dois anos de vida. Reunir tal repertório me encheu de vontade de ver o evento em si para curtir cada minuto do espetáculo que eu acreditava ser a observação da nossa estrela-mãe em sua despedida poente.
   Neste último feriado, dia oito de setembro, me foi dado este presente. No recém inaugurado Parque Moacyr Scliar - nome dado à Nova Orla do Gasômetro, pós-revitalização -, um dos pontos turísticos desta minha amada (embora conflituosa) Porto Alegre, em um dos decks lotados de conterrâneos a lagartear no solzinho, assisti, enfim, ao meu primeiro pôr do sol por inteiro. E foi espetacular!
   Impressionante como foram necessárias horas até que a estrela tangenciasse o horizonte, mas apenas poucos minutos para que as árvores do outro lado do Guaíba consumissem a luz alaranjada a pintar cada um de nós, embasbacados espectadores. Este cenário por muitos anos me foi vendido como o pôr do sol mais bonito do mundo; não conheço muito além das áreas limítrofes de minha localização inata, mas acredito nesta afirmação: a imagem deixa marcas estampadas na retina de qualquer um. O resto do mundo precisará de esforços hercúleos para superar esta paisagem - e tenho dito!


   Como em todos os casos de manifestação da beleza extrema, quando ela existe por si própria, sua aparição foi fugidia: tomou apenas o espaço de tempo necessário para impressionar a quem entendesse a completude de sua presença e, então, se pôs, deixando-nos à merce da noite e da lembrança. Pelo assombro proporcionado - e pela natureza humana que me é intrínseca - tentei registrar por lentes imperfeitas a passagem esplendorosa da perfeição e, como esperado, falhei. Câmera alguma é capaz de capturar a grandeza desta cena, seu impacto e a torrente de certezas que acompanham a comparência: somos seres diminutos em um mundo à deriva na escuridão desconhecida, banhados diariamente pelo espetáculo do Sol, e por todas as promessas de recomeço para aqueles que o receberão logo após sua retirada de nosso campo de visão. É impossível não pensar nos milagres dos quais somos feitos, ao contemplar a complexidade do universo que integramos. Uma realização para a alma, antes de qualquer outra coisa.
    Questiono meu léxico enquanto escrevo, ao recordar o colorido do céu (e de todo nós, por consequência): não sei se palavras são capazes de expressar o encanto que me foi somado ao acompanhar este fim de tarde. Há um brilho único - com o perdão do trocadilho - em sentir na pele o calor do Sol que, magnificente, anuncia sua abrangência ao outro lado do planeta. Perguntei-me à beira do lago, e pergunto-me agora: como bastar-nos pelo azul pálido de um céu abandonado após este horizonte em chamas? Se algum dia houver resposta a este questionamento, talvez após repetições frequentes deste exercício de atenção tão enriquecedor, prometo compartilhá-la aqui. Até lá, busco nestes cliques errantes reviver, dentro de mim, a singularidade desta experiência.
  
leiaseJella
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